Comportamentos acumulados de estilo de vida – englobando atividade física, comportamento sedentário, sono e qualidade da dieta, medidos desde a infância até a adolescência – estão associados aos níveis de estresse percebido e sintomas depressivos na adolescência?!
Importância e Contexto
Problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, surgem com frequência na adolescência e início da vida adulta, afetando até 25% a 30% dos jovens.
Entender os fatores de proteção e risco ao longo do desenvolvimento é essencial para identificar crianças e adolescentes em maior risco e para orientar intervenções preventivas.
O Estudo em Questão
O estudo foi publicado na JAMA Pediatrics e trata-se de uma coorte prospectiva realizada na Finlândia, como parte do estudo PANIC (Physical Activity and Nutrition in Children).
- Foram coletados dados de crianças com idades entre 6 e 9 anos.
- O acompanhamento durou 8 anos, até a adolescência.
- A análise incluiu:
- 187 adolescentes com dados autodeclarados válidos.
- 170 com dados obtidos por dispositivos.
Exposições (Comportamentos de Estilo de Vida)
- Atividade Física (PA): Avaliada por questionários (PA total, não supervisionada, esportes, exercícios supervisionados) e dispositivos (acelerômetro com sensor de frequência cardíaca).
- Comportamento Sedentário (SB) e Tempo de Tela (ST): Incluindo tempo total de tela, uso de computador e dispositivos móveis, medidos por questionário e dispositivo.
- Sono: Duração avaliada por sensor.
- Qualidade da Dieta: Determinada a partir de registros alimentares de 4 dias e do Baltic Sea Diet Score.
Desfechos
- Estresse Percebido: Medido pela versão finlandesa da Cohen Perceived Stress Scale.
- Sintomas Depressivos: Avaliados pela Beck Depression Inventory.
Análise Estatística
Modelos de regressão linear foram utilizados para avaliar associações entre exposições acumuladas (área sob a curva – AUC – em 3 momentos: início, 2 anos e 8 anos) e saúde mental.
Ajustes nos modelos incluíram idade, sexo, escolaridade dos pais, estado puberal e percentual de gordura corporal. Foram avaliadas interações entre sexo e comportamentos.
Resultados
Perfil dos Participantes
- Dos 504 participantes iniciais, 187 adolescentes apresentaram dados válidos (média de 15,8 anos; 51,9% meninos).
- Médias:
- 2 horas/dia de atividade física (autodeclarada)
- 0,7 hora de atividade física moderada a vigorosa (dispositivo)
- 4,7 horas/dia de tempo de tela
- 9 horas de sono por noite
- Baltic Sea Diet Score médio: 67% do valor máximo.
Associações Encontradas
- Atividade Física: Níveis mais altos de PA total e exercícios supervisionados → menores escores de estresse e depressão. Em meninos: PA total e não supervisionada tiveram associação inversa significativa.
- Tempo de Tela: Maior tempo de tela (principalmente em dispositivos móveis) → maior estresse percebido e sintomas depressivos.
- Outros Comportamentos: Não houve associação significativa entre qualidade da dieta ou sono e os desfechos.
Conclusão
Os achados indicam que:
- Maior tempo de tela desde a infância está associado a mais estresse e sintomas depressivos na adolescência.
- Mais atividade física (sobretudo supervisionada) tem efeito protetor.
Contudo, ao considerar o tempo de tela, a força da associação entre atividade física e saúde mental diminui — sugerindo que reduzir o tempo de tela pode ser mais importante do que simplesmente aumentar a atividade física.
Diferenças entre os sexos mostraram que meninos se beneficiam mais da atividade física autodeclarada, enquanto para meninas, as associações foram menos consistentes.
O estudo de coorte com adolescentes finlandeses demonstra que há forte relação entre estilo de vida na infância e saúde mental na adolescência. É fundamental promover estratégias que reduzam o tempo de tela e incentivem a prática regular de atividades físicas para melhorar o bem-estar emocional dos jovens.