O texto de hoje apresenta recomendações de especialistas sobre o manejo da fragilidade em pessoas com demência, a fim de orientar profissionais de saúde, especialmente na Atenção Primária. As recomendações baseiam-se em revisão rápida de literatura e em um processo de consenso com 18 especialistas internacionais em demência e fragilidade.
Contexto
- A demência afeta cognição, comportamento e funcionalidade, e estima-se que afete mais de 50 milhões de pessoas no mundo.
- A fragilidade, caracterizada por maior vulnerabilidade e redução na capacidade de resposta a estressores, frequentemente coexiste com a demência, agravando desfechos clínicos e elevando a complexidade dos cuidados.
Principais Recomendações
Identificação da fragilidade
- Usar instrumentos simples, como as escalas FRAIL ou Clinical Frailty Scale, para detectar e graduar a fragilidade precocemente.
Intervenções iniciais precoces
- Ações imediatas após a detecção da fragilidade podem atenuar efeitos negativos e ajudar a preservar a funcionalidade.
Avaliação e diagnóstico do estado nutricional
- Avaliar nutrição regularmente (ex.: Mini Nutritional Assessment – Short Form).
- Atentar para risco de desnutrição e sarcopenia.
Manejo nutricional
- Educação alimentar para paciente e cuidadores.
- Ingestão proteica adequada (1,2–1,8 g/kg/dia).
- Suplementos nutricionais quando necessário.
- Monitorar hidratação (1,6 L/dia para mulheres, 2,0 L/dia para homens).
Micronutrientes e vitaminas
- Avaliar deficiência de vitaminas (D, B12, folato).
- Uso de multivitamínicos se ingestão diária for inferior a 1500 kcal.
Terapias farmacológicas para demência
- Medicamentos devem ser mantidos ou iniciados conforme indicação, com avaliação de riscos e benefícios.
Prescrição de exercícios físicos
- Programa de exercícios multicomponentes (aeróbico, resistência, equilíbrio e marcha), adaptado às condições do paciente.
Exercícios multidomínio
- Combinar atividade física e treino cognitivo, monitorando adesão e resposta.
Avaliação e manejo da depressão
- Rastrear com instrumentos curtos (ex.: PHQ-2).
- Tratar com intervenções não farmacológicas ou seguras para idosos.
Isolamento social e solidão
- Investigar percepção de solidão e conectar com serviços comunitários.
Risco de quedas
- Avaliar histórico e fatores associados (uso de medicações, fraqueza muscular).
- Implementar intervenções preventivas (ex.: adaptação do ambiente, exercícios de equilíbrio).
Polifarmácia e desprescrição
- Revisar medicações com base em critérios como STOPP/START ou Beers.
- Evitar medicamentos potencialmente inapropriados (anticolinérgicos, benzodiazepínicos, antipsicóticos, opioides).
Perdas sensoriais (audição e visão)
- Avaliar e tratar perdas auditivas e visuais, que agravam o isolamento.
Conclusões
As recomendações enfatizam a abordagem integral, centrada na pessoa e na manutenção de funcionalidade e qualidade de vida. Mesmo com limitações nas evidências específicas para a combinação demência–fragilidade, adotar essas diretrizes pode melhorar a prática clínica, influenciar políticas de saúde e oferecer cuidados mais adequados à população idosa.