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Desvendando a Interpretação Adequada de Testes de Rastreio e Diagnóstico para Médicos

diagnóstico-clínico diagnóstico-médico mbe medicina medicina-baseada-em-evidências raciocínio-diagnóstico May 29, 2024

Em nossa jornada profissional, estamos constantemente diante do desafio de interpretar corretamente os resultados de testes de rastreio e diagnóstico. Essas ferramentas fundamentais nos ajudam a identificar condições médicas e guiar o tratamento dos nossos pacientes. No entanto, a interpretação precisa desses resultados nem sempre é uma tarefa fácil. Neste artigo, vamos explorar estratégias para uma interpretação adequada de testes de rastreio, diagnóstico e riscos, capacitando-nos a tomar decisões informadas e proporcionar o melhor cuidado possível aos nossos pacientes.

Compreendendo os Testes de Rastreio: 

 Os testes de rastreio desempenham um papel crucial na detecção precoce de doenças, permitindo intervenções precoces e melhorando os resultados para os pacientes. No entanto, é essencial entender que esses testes não são diagnósticos por si só. Em vez disso, eles identificam indivíduos com maior probabilidade de ter uma condição específica, exigindo frequentemente testes adicionais para confirmar o diagnóstico.

Ao interpretar resultados de testes de rastreio, devemos considerar sua sensibilidade e especificidade. A sensibilidade refere-se à capacidade do teste de identificar corretamente os indivíduos que realmente têm a doença (verdadeiros positivos), enquanto a especificidade indica a capacidade do teste de excluir corretamente os indivíduos que não têm a doença (verdadeiros negativos). Um teste com alta sensibilidade tem poucos falsos negativos, enquanto um teste com alta especificidade tem poucos falsos positivos. 

Por exemplo, ao analisar um teste de rastreio para câncer de mama, devemos considerar não apenas a taxa de detecção de tumores verdadeiros, mas também a probabilidade de resultados falso-positivos que podem levar a preocupações desnecessárias e procedimentos invasivos. Nenhum teste é perfeito (100% de sensibilidade e 100% de especificidade); para diminuir a taxa de falsos diagnósticos, o rastreamento deve ser feito de maneira inteligente, isto é, observando a população de risco afetada. Ren et al, maior revisão sistemática sobre rastreio de câncer de mama, indicou que o intervalo ótimo para realizar mamografia é de 50 a 69 anos (individualizando casos com fatores de risco associados: história familiar importante, BRCA1/2+, etc.)

Interpretando Testes Diagnósticos:

 Os testes diagnósticos são projetados para confirmar ou descartar uma suspeita clínica de doença em um paciente. Diferentemente dos testes de rastreio, eles são realizados em pacientes sintomáticos ou com resultados positivos em testes de rastreio, com o objetivo de determinar com precisão a presença ou ausência de uma condição específica.

Ao interpretar resultados de testes diagnósticos, devemos considerar não apenas os aspectos técnicos do teste, mas também o contexto clínico do paciente. Isso inclui sua história médica, sintomas apresentados, exame físico e outros resultados de testes complementares. A combinação desses fatores nos ajuda a tomar decisões informadas sobre o diagnóstico e o plano de tratamento. 

É importante lembrar que nenhum teste diagnóstico é perfeito, e sempre existe a possibilidade de resultados falso-positivos ou falso-negativos. Portanto, devemos interpretar os resultados dentro do contexto clínico geral do paciente e considerar a necessidade de testes adicionais ou acompanhamento. 

Lembre-se: a clínica é soberana.

Problemáticas do rastreamento:

  1. Viés do tempo de antecipação: é a falsa percepção que o diagnóstico precoce aumenta o tempo de sobrevida do paciente. Imagine que você solicitou um exame de screening sem critérios claros e o resultado do teste seja positivo. A partir desse momento você iniciará o tratamento. Por uma questão de temporalidade, o seu paciente terá um tempo de vida maior pós-diagnóstico, visto que ele ocorreu precocemente; todavia, esse aumento de sobrevida se dá apenas por esse fator e não pelo tratamento. Caso isso ocorra em uma grande população, poderá se ter a falsa ideia que a relação diagnóstico precoce - tratamento precoce - aumento de sobrevida, nesse caso, seja verdadeira.

Dica de leitura: Assessing lead time bias due to mammography screening on estimates of loss in life expectancy | Breast Cancer Research



  1. Viés do tempo de duração: é a falsa percepção que o diagnóstico precoce aumenta o tempo de sobrevida do paciente. Diferentemente do tempo de antecipação, esse viés ocorre por uma diferença amostral. Por exemplo, um determinado tipo de câncer pode ter uma gama de tumores com velocidades de crescimento diferentes. De maneira geral, tumores de desenvolvimento lento demoram para apresentar sintomas, enquanto tumores de desenvolvimento rápido apresentam clínica mais precoce. Um paciente sintomático, de tumor mais agressivo, procurará o serviço de saúde e terá seu diagnóstico após os exames serem feitos. Todavia, se o paciente não apresentar sintomas, ele não procurará um médico e, portanto, terá seu diagnóstico apenas se houver algum tipo de screening. Caso isso ocorra em uma grande população, poderá se ter a falsa ideia que a relação diagnóstico precoce - melhor prognóstico - aumento de sobrevida, nesse caso, seja verdadeira (o tumor era apenas menos agressivo).

Dica de leitura: Continuous tumour growth models, lead time estimation and length bias in breast cancer screening studies | Sage Journals

Conclusão: 

A interpretação adequada de testes de rastreio e diagnóstico é uma habilidade essencial para todos os médicos. Ao compreender os princípios por trás dessas ferramentas, podemos tomar decisões informadas que beneficiam diretamente nossos pacientes. Lembre-se sempre de considerar a sensibilidade, especificidade e contexto clínico ao interpretar resultados de testes, garantindo o melhor cuidado possível para aqueles que confiam em nossa expertise médica.



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