Tornando-se um Médico de Excelência:

Caminho para o sucesso

Mulher, Exercício e Esporte: Um Olhar Cuidadoso para a Saúde e Bem-estar

esporte medicina do estilo de vida medicina-baseada-em-evidências medicina-do-exercicio-e-do-esporte saúde da mulher Oct 01, 2024

 

A participação feminina no esporte e no exercício físico tem crescido significativamente nas últimas décadas. No entanto, compreender as nuances da fisiologia da mulher, suas necessidades específicas e os riscos associados é essencial para otimizar o desempenho e, mais importante, promover a saúde. Este artigo abordará diversos aspectos relacionados ao exercício físico na mulher, focando na prevenção, análise de estudos científicos, fisiologia, impacto dos níveis hormonais, RED-S, doença coronariana, e diretrizes específicas para a prática de exercícios durante a gravidez.

Prevenção: Exercício como Pilar da Saúde Feminina

O exercício físico é amplamente reconhecido como um dos principais fatores de prevenção de doenças crônicas. Na mulher, a prática regular de atividades físicas está associada à redução de risco para doenças cardiovasculares, osteoporose, diabetes tipo 2, e certos tipos de câncer, como o de mama e o de colo de útero. Além disso, a prática esportiva tem mostrado impacto positivo sobre a saúde mental, ajudando no controle da ansiedade, depressão e estresse, condições comumente observadas em mulheres em diferentes fases da vida. 

As recomendações para a prática de exercícios físicos em mulheres são bem estabelecidas e visam promover a saúde cardiovascular, o controle de peso e o bem-estar geral. De acordo com as diretrizes da American Heart Association (AHA), as mulheres devem acumular pelo menos 150 minutos por semana de exercício moderado ou 75 minutos por semana de exercício vigoroso, ou uma combinação equivalente de atividades aeróbicas de intensidade moderada e vigorosa. Essas atividades devem ser realizadas em episódios de pelo menos 10 minutos, preferencialmente distribuídos ao longo da semana

Análise de Estudos: Evidências Científicas sobre Exercício e Saúde Feminina

Diversos estudos têm explorado os efeitos do exercício na saúde feminina. Um artigo publicado no British Journal of Sports Medicine destacou que mulheres fisicamente ativas têm 30% menos risco de desenvolver doenças cardiovasculares em comparação com aquelas que não se exercitam. Além disso, a prática regular de exercícios tem mostrado benefícios na melhora da qualidade do sono, regulação do peso corporal e fortalecimento do sistema imunológico. Estudos longitudinais apontam que mulheres que mantêm um estilo de vida ativo durante a vida adulta apresentam menores taxas de mortalidade por todas as causas.

Fisiologia do Exercício na Mulher

A fisiologia do exercício na mulher apresenta particularidades que a diferenciam dos homens. A composição corporal feminina é caracterizada por maior percentual de gordura e menor massa muscular, o que pode impactar na performance física e no gasto energético. Além disso, fatores como o ciclo menstrual influenciam a resposta fisiológica ao exercício, com variações no metabolismo, na força muscular e na resistência ao longo das diferentes fases do ciclo. Por isso, o acompanhamento e ajustes nos treinamentos são essenciais para respeitar essas variações hormonais e otimizar os resultados.

Exercícios e Níveis Hormonais

Os hormônios femininos, como o estrogênio e a progesterona, desempenham papéis cruciais na regulação do ciclo menstrual e influenciam diretamente a capacidade de realizar atividades físicas. Durante a fase folicular, por exemplo, há uma melhora na capacidade de oxidação de gordura e no desempenho aeróbico, enquanto na fase luteal pode haver uma redução na capacidade de resistência e maior propensão à fadiga. Entender essas variações hormonais permite um melhor planejamento de treinamentos e competições para otimizar a performance e prevenir lesões.

  1.  Estrogênios: A atividade física está associada a uma redução nos níveis de estradiol total e livre. Essa redução é observada tanto em mulheres pré-menopáusicas quanto pós-menopáusicas, independentemente do status menopausal, sendo mais pronunciada em mulheres não obesas e com exercícios de alta intensidade. Em mulheres pós-menopáusicas, a perda de gordura corporal mediada pelo exercício também está associada a uma diminuição nos níveis de estrogênios.
  2.  Andrógenos: O exercício pode levar a uma diminuição nos níveis de testosterona livre e outros andrógenos, como a androstenediona e o sulfato de dehidroepiandrosterona (DHEA-S). No entanto, o tipo de exercício e a perda de massa gorda podem modificar esses efeitos. Em alguns casos, o treinamento de força pode aumentar os níveis de testosterona total e livre.
  3.  SHBG: O exercício físico tende a aumentar os níveis de SHBG, o que pode contribuir para a redução dos níveis de hormônios sexuais livres.

Esses efeitos hormonais do exercício são importantes, pois a exposição a altos níveis de estrogênios endógenos é um fator de risco para o câncer de mama. Assim, a atividade física pode ser uma estratégia benéfica para reduzir esse risco, além de promover outros benefícios à saúde.

RED-S: Deficiência Energética Relativa no Esporte

O RED-S (Relative Energy Deficiency in Sport) é uma condição comum em atletas do sexo feminino, caracterizada pela ingestão insuficiente de calorias em relação ao gasto energético, afetando negativamente a saúde e o desempenho. Essa condição pode levar a consequências graves, como irregularidades menstruais, perda de densidade óssea e prejuízos à imunidade. O acompanhamento nutricional adequado e o equilíbrio entre consumo e gasto energético são fundamentais para prevenir essa síndrome e garantir a longevidade esportiva da mulher. 

Os efeitos da RED-S são amplos e podem incluir disfunções neuroendócrinas, imunológicas, hematológicas e ósseas, resultando em comprometimento da saúde e do desempenho esportivo. A identificação precoce e o manejo adequado são cruciais para prevenir consequências mais graves. O tratamento da RED-S foca principalmente em modificações comportamentais e de estilo de vida para corrigir o déficit energético, além de abordar sintomas específicos, como disfunções menstruais e lesões ósseas. Estratégias de prevenção incluem educação e desestímulo ao foco excessivo em peso corporal e magreza, especialmente em atletas jovens. 

A RED-S é um conceito amplamente aceito, mas ainda existem desafios na medição precisa da disponibilidade energética e na diferenciação de seus sintomas de outras condições. A pesquisa contínua é necessária para entender melhor os mecanismos subjacentes e desenvolver intervenções eficazes.

  1.  Disfunção Hipotalâmica e Menstrual: Exercícios intensos, especialmente quando associados a uma ingestão calórica inadequada, podem levar à disfunção hipotalâmica. Isso resulta na supressão da liberação pulsátil de GnRH, afetando a liberação de gonadotrofinas pela hipófise anterior, o que pode causar amenorreia hipotalâmica funcional e disfunções menstruais.
  2.  Hipoestrogenismo: A baixa disponibilidade energética (LEA) reduz a pulsação de FSH e LH, levando ao hipoestrogenismo. Isso pode resultar em distúrbios menstruais, como oligomenorreia e anovulação, e está associado a uma diminuição da densidade óssea.
  3.  Alterações Metabólicas e Endócrinas: A RED-S também afeta outros eixos hormonais, incluindo a sinalização do hormônio da tireóide, os níveis de leptina, o metabolismo de carboidratos e o eixo do hormônio do crescimento/IGF-1. Essas alterações podem impactar negativamente a saúde óssea, a atividade metabólica e a composição corporal.

Doença Coronariana na Mulher e o Papel do Exercício

A doença coronariana é a principal causa de morte entre mulheres no mundo. A prática regular de exercícios físicos, especialmente atividades aeróbicas, desempenha um papel fundamental na prevenção de doenças cardiovasculares, uma vez que melhora o perfil lipídico, controla a pressão arterial e promove a saúde vascular. Para benefícios cardiovasculares, recomenda-se aumentar a atividade aeróbica de intensidade moderada para 300 minutos por semana ou 150 minutos por semana de atividade vigorosa, ou uma combinação equivalente. Atividades de fortalecimento muscular envolvendo todos os principais grupos musculares devem ser realizadas em dois ou mais dias por semana. No entanto, é importante salientar que mulheres com histórico familiar ou fatores de risco devem passar por uma avaliação médica detalhada antes de iniciar atividades físicas de alta intensidade.

Gravidez e Exercício: Fisiologia, Contra-indicações e Diretrizes

A prática de exercícios durante a gravidez é segura e altamente recomendada para a maioria das gestantes, trazendo benefícios tanto para a mãe quanto para o bebê. Os principais benefícios incluem o controle do ganho de peso, redução do risco de diabetes gestacional, melhoria na qualidade do sono e na saúde cardiovascular. No entanto, é importante que o exercício seja moderado, evitando atividades de alto impacto ou que possam causar quedas ou traumas abdominais. As diretrizes da American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) recomendam pelo menos 150 minutos de exercício aeróbico de intensidade moderada por semana. Durante este periodo, as mulheres devem ser incentivadas a dividir esses 150 minutos em mais sessões e realizar 20 a 30 minutos de exercício de intensidade moderada na maioria dos dias da semana, a menos que haja contraindicações. Isso pode incluir exercícios aeróbicos e de fortalecimento. A atividade física durante a gravidez está associada a uma redução no risco de diabetes gestacional e pré-eclâmpsia.

Contra-indicações para a prática de exercícios durante a gestação incluem hipertensão induzida pela gravidez, placenta prévia, sangramento vaginal inexplicado, e doenças cardíacas ou pulmonares graves. Cada caso deve ser avaliado individualmente para garantir a segurança da gestante e do feto.

Conclusão

O exercício físico é um poderoso aliado para a saúde da mulher em todas as fases da vida. Ao considerar as especificidades da fisiologia feminina, os benefícios do exercício podem ser maximizados, promovendo não apenas um melhor desempenho esportivo, mas também uma vida mais saudável e equilibrada. Seja na prevenção de doenças crônicas, na promoção da saúde mental, ou na melhoria da qualidade de vida durante a gravidez e o climatério, o papel do exercício é inegável e deve ser incentivado.

A NEWSLETTER DA EXCELÊNCIA

Quer se manter atualizado(a) com o que há de mais relevante na medicina?

Cadastre-se agora para ser o(a) primeiro(a) a saber quando publicarmos conteúdo novo.

Prometemos trazer somente conteúdo relevante e não lotar sua caixa de emails.